Acompanhe a peregrinação de judeus da diáspora para enterrar entes queridos em Israel

Judeus da diáspora estão enfrentando uma série de obstáculos para satisfazer o desejo de entes queridos de serem enterrados em Israel. Esse foi o caso de Leon Simons, de 88 anos, morador de Londres. Em 25 de março, Simons começou a se sentir mal. Ele não conseguiu se levantar da cadeira, então ele e sua esposa Deborah foram levados para o hospital. Nenhum dos dois apresentava sintomas do coronavírus mas, como é prática comum, eles foram testados para detectar a doença e o resultado deu positivo. Depois de dois dias no hospital, Simons estava se sentindo melhor. Mas quando estavam prestes a ser liberados, ele sentiu dificuldade para respirar e foi levado para tratamento intensivo, onde faleceu horas depois.

Simons queria ser enterrado em Israel. Cerca de 20 anos atrás, ele havia comprado um lugar no cemitério Eretz Hachaim, perto de Beit Shemesh, através da Sinagoga Unida, uma união de comunidades ortodoxas britânicas que possui uma seção lá.

Mas, com os vôos reduzidos, burocracia e a necessidade de ter caixões especiais para as vítimas de coronavírus, não está sendo fácil transportar parentes para serem enterrados na Terra Santa.

O filho de Simons enfrentou uma dura peregrinação que durou quatro dias, mas conseguiu satisfazer a vontade do pai. “Era para tudo ter sido muito tranquilo, se não fosse essa situação (do coronavírus))” disse Michael, filho de Simons e morador de Jerusalém que vive em Israel desde 1988.

O Reino Unido exige uma certidão de óbito especial antes que um corpo possa ser transportado para fora do país. Mas também existem muitas restrições adicionais com relação ao transporte de alguém que morreu de uma doença infecciosa. Por seu lado, o Ministério da Saúde de Israel exige que as pessoas que morreram de COVID-19 sejam enterradas em sacos especiais, que não estavam disponíveis para o chevrakadisha (instituição que cuida de enterros judaicos) em Londres na ocasião, disse Simons.

Para piorar as coisas, todas as companhias aéreas comerciais pararam de voar do Reino Unido para Israel, como consequência da pandemia de coronavírus.

“No início, não estava claro o que poderia ser feito”, disse Michael Simons. “Ninguém disse que não era uma boa ideia tentar fazê-lo. Mas o rabino disse que talvez não fosse possível”.

Mas, depois, tudo deu certo. O profissional da United Synagogue que lida com enterros – que por acaso é um agente de viagens – ajudou a liberar a documentação necessária e reservou uma vaga para o corpo de Simons em um voo de carga para o Aeroporto Ben Gurion.

Quatro dias depois de sucumbir à COVID-19, seu desejo final foi realizado. Seu filho Michael, e alguns primos e amigos, todos usando máscaras, assistiram à cerimônia de sepultamento respeitando a distância recomendada entre eles.

“Foram necessários dias de negociações, envolvendo muitas pessoas diferentes”, disse Michael. “Muitas pessoas se esforçaram para tornar isso possível”.

Por que essa vontade?

Os Simons não são os únicos que enfrentaram dificuldades na situação única causada pela pandemia de coronavírus ao tentar organizar um enterro na Terra Santa para os entes queridos que morreram no exterior. De fato, muitos tiveram que alterar seus planos de levar parentes para serem enterrados em Israel.

Desde o início de fevereiro de 2020 até o final de abril, 353 corpos (100 cidadãos israelenses e 253 estrangeiros) foram levados a Israel do exterior para serem enterrados, muitos deles em vôos especialmente organizados e alguns fazendo várias escalas no caminho quando não há vôos diretos para Tel Aviv. No ano passado, aproximadamente 1.500 corpos de judeus foram transportados para Israel para serem enterrados na Terra Santa.

Das 353 pessoas cujos corpos foram transportados para Israel desde o início da pandemia, 55 (10 israelenses e 45 estrangeiros) tinham a COVID-19, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, LiorHaiat, ao jornal The Times of Israel na quinta-feira. A maioria dos enterros era de judeus dos EUA, Canadá, França, Grã-Bretanha e de outros lugares e de pessoas que não eram cidadãos israelenses, mas cujo último desejo era descansar na Terra Santa.

Ao contrário da Turquia, da Autoridade Palestina e de outros, Israel não coleta dados sobre expatriados que morreram com o coronavírus no exterior.

Há muitas razões pelas quais os judeus da diáspora querem ser enterrados em Israel: alguns acreditam que os mortos ressuscitarão no final dos tempos e querem estar mais perto do Templo Sagrado em Jerusalém quando o Messias vier. Outros simplesmente querem que seus túmulos estejam perto de membros da família que se mudaram para Israel.

E apesar de os túmulos em cemitérios de Israel não serem baratos (entre US$ 10.000 a 30.000, dependendo da localização, mais taxas), pode haver razões financeiras. Na França, por exemplo, os membros da família precisam renovar o contrato de sepultamento de seus entes familiares a cada 30 anos, ou correm o risco de serem exumados e transferidos para um local menos desejável.

Essas exigências não mudaram diante da atual crise de saúde pública. Mas desde que o tráfego aéreo global quase parou, desde o início da pandemia, tornou-se mais difícil, e em alguns casos quase impossível, transportar caixões para Israel.

“As pessoas ainda estão fazendo isso. Mas o número caiu drasticamente, estritamente por causa de complicações no transporte”, disse o rabino BenjySpiro, de Los Angeles, da ChesedShelEmes, uma organização ortodoxa que ajuda judeus a enterrar seus parentes. A maioria das companhias aéreas parou de voar para Israel, e as que ainda o fazem hesitam em carregar corpos devido ao coronavírus, disse ele. A companhia israelense El Al, anunciou na sexta-feira que estava disposta a transportar os corpos das vítimas do COVID-19 de Nova York para Tel Aviv.

Em tempos normais, trazer um caixão em um voo da El Al da América do Norte para o Aeroporto Ben Gurion custa cerca de US$ 3.000. Para organizar um jato particular de Nova York a Israel, os interessados devem gastar mais de US$ 200.000, disse Spiro, razão pela qual sua organização está atualmente tentando fretar um avião de grande porte com capacidade para transportar muitos corpos, na esperança de tornar mais acessível o custo para os parentes que desejam enterrar seus entes queridos em Israel.

Fonte: Conib