Livro infanto-juvenil traz histórias de judeus que desembarcaram no Rio de Janeiro

“Uma casa no mundo” conta histórias de pessoas que cruzaram continentes e oceanos em direção ao Brasil e encontraram no Rio de Janeiro um novo lar. Estes imigrantes judeus trouxeram suas malas repletas de lembranças, costumes e expectativas de encontrar segurança, trabalho e um bom lugar para viver e criar seus filhos.

Os contos, escritos por Daniela Chindler com a consultoria da antropóloga Juliana Portenoy, relembram os desafios da chegada ao Brasil dessas famílias vindas de diversos países, como Rússia, Alemanha, China, Líbano, Marrocos e Polônia.

Daniela Chindler explica: “Sou bisneta de um pianista russo, neta de uma avó que veio de Jerusalém e carrega o sobrenome de um bisavô que morava na Romênia. Pensando nesses passados que fazem parte da gente, tive vontade de refazer o trajeto dos imigrantes. Ao contar uma história, estamos abrindo uma janela para que muitas outras sejam buscadas”.

Os leitores encontrarão histórias como a de Ricardo Szpilman que, inspirado na música tocada por seu bisavô polonês, fundou um bloco de Carnaval na Praça Onze. Histórias de personagens tão cariocas como David Azulay, descendente de judeus marroquinos, inventor do famoso biquíni de lacinho que virou moda nas areias da praia de Ipanema nos anos 1980. Ou a história de Leona Forman, descendente de judeus russos, que nasceu na China, e recebeu o título de Carioca Honorária pelas realizações da BrazilFoundation, entidade criada por ela em prol de um Brasil mais justo.

Alguns desses personagens são conhecidos na cena carioca, como a campeã de saltos ornamentais e natação, Nora Rónai, mãe da musicista Laura Rónai e da jornalista Cora Rónai. Aos 96 anos, ela relembra passagens da sua vida no conto “Vencendo por braçadas”. Aos 17 anos, Nora chega ao Brasil com o pai, a mãe e o irmão. Fugindo do fascismo italiano, os quatro embarcam no porão de um navio, rumo ao Rio de Janeiro, com o dinheiro contado para apenas uma semana. Quando as últimas economias estão terminando, a jovem Nora sai de porta em porta vendendo cremes e, assim, a família junta dinheiro para seguir em frente.

Para escrever o livro, Daniela Chindler realizou diversas entrevistas com os próprios personagens ou seus familiares. A pesquisa histórica partiu dos relatos orais, assim como de imagens – das cidades de onde partiram, de roupas de época e outros. Daniela diz que precisa ver a paisagem para conseguir escrever as cenas de forma que o leitor também enxergue o que está sendo contato. Nem sempre isso é simples. O historiador Vinicius Zavallis e a antropóloga Juliana Portenoy ajudaram na busca das informações. “Essa parte do processo se assemelha ao trabalho de um detetive”, diz Zavalis. A equipe buscou pistas e informações em museus, grupos de comunidade em redes sociais, entrevistas publicadas etc. Um exemplo disso é o trecho:

“Aos domingos, as crianças iam com os pais colher cogumelos e framboesas. A floresta, que ficava a alguns minutos de caminhada, era dominada por altos pinheiros, mas ali também cresciam carvalhos, faias e bétulas. O tronco das bétulas, coberto por uma casca branca prateada, lembrava um cenário de contos de fadas. Não era raro avistarem lebres, guaxinins e raposas correndo por entre as árvores. E, quando tinham sorte, encontravam uma corça.” – A entrevistada não conheceu a cidade natal da mãe (personagem do conto “A menina que partiu no trem”) e Daniela escreveu esse trecho a partir de relatos de outros moradores da cidade que ela encontrou fazendo a pesquisa do livro.

Importantes eventos da História mundial, principalmente referente aos períodos pré e pós Segunda Guerra Mundial, também ajudam a contextualizar os acontecimentos. Aqui destaca-se o trabalho de Juliana Portenoy na elaboração dos verbetes que acompanham os contos. São termos da tradição judaica, mas também verbetes da História mundial, como “Organização das Nações Unidas”, “Império Russo”, “Cruz Vermelha”, “Pessoas sem cidadania” e “Fascismo”.

Um mapa-múndi contemporâneo guia o leitor pelas mudanças que o mundo sofreu em suas fronteiras ao longo do tempo.

Vendas: livro físico na Livraria da Travessa (no Rio de Janeiro, nas lojas do Leblon e Ipanema e, em São Paulo, em Pinheiros) e eBook na Amazon.