Livros destacam os efeitos nocivos do nazismo para a humanidade

Ao final de “O desaparecimento de Josef Mengele”, o escritor francês Olivier Guez adverte: “A cada duas ou três gerações, quando a memória se esvai e as últimas testemunhas dos massacres anteriores morrem, a razão se retrai e homens voltam a propagar o mal”.

Ganhador do prêmio Renaudot, um dos três mais importantes da França, pelo livro que investiga a fuga do médico nazista Josef Mengele para a América do Sul, Guez ainda lembra que o homem “é uma criatura maleável” e que é prudente, sempre, desconfiar da humanidade.

O mesmo alerta faz o autor britânico Jeremy Dronfield, autor do recém-lançado ‘O garoto que seguiu o pai para Auschwitz’. “Assusta-me muito ver que a extrema direita está ascendendo novamente no mundo. O humor é o mesmo, o ódio e a intolerância são os mesmos, a retórica da extrema direita hoje é idêntica àquela dos anos 1930”, diz Dronfield, historiador, arqueólogo e especialista em nazismo.

Escrito a partir do diário de Gustav Kleinmann, ‘O garoto que seguiu o pai para Auschwitz’ narra a história do judeu Gustav e seu filho, Fritz, durante a invasão nazista da Áustria e a deportação para dois campos de concentração. Inicialmente, o país resiste a Adolf Hitler, mas o cenário improvável de aceitar a invasão estrangeira e bater continência para o invasor acaba por tomar a sociedade austríaca, que aceita, sem muita resistência, a perda da soberania. O livro aborda a consequente perseguição aos judeus que atinge a família Kleinmann, formada por trabalhadores que acreditavam ser, antes de tudo, austríacos.

Quando se dá conta do perigo da perseguição nazista, a mãe consegue mandar dois filhos para o exterior, mas boa parte da família acaba vítima do horror imposto pela extrema direita alemã, sob o comando de Adolf Hitler. Fritz e Gustav foram capturados pelos nazistas logo no início da guerra, em 1939. Durante os seis anos que durou o conflito, Fritz concentrou todos os esforços em nunca se separar do pai. Quando soube que ele seria transferido de Buchenwald para Auschwitz, implorou por um lugar no trem da morte para não deixar Gustav sozinho.

O relato de Dronfield foi baseado no diário escrito por Gustav, um texto denso e cheio de códigos para proteger as pessoas citadas. “O diário é um material difícil. Gustav o escreveu como uma maneira de preservar a própria sanidade, não com a intenção de que fosse lido. No entanto, é escrito de maneira bem esquemática, com muitas referências criptografadas sobre pessoas, incidentes e situações”, conta o pesquisador. “Quando entendi a força incrível da decisão de Fritz de ir voluntariamente com o pai para Auschwitz, percebi que era uma história que precisava ser contada para uma avaliação mais ampla e de uma maneira acessível para todos”.

Compreender como o nazismo se instalou e como uma sociedade inteira endossou um discurso de ódio a uma camada da sociedade, a ponto de aprovar sua exterminação, Dronfield acredita, é muito útil para evitar os perigos que batem à porta do século 21. “O mundo precisa, urgentemente, aprender que o Holocausto não foi um evento único e que algo como isso pode acontecer novamente. E nós já estamos nesse caminho”, alertou.