Relato sobre resistência judaica mostra disposição de lutar pela vida

Foi lançado no Brasil, em tradução direta do ídish, o livro “Os Vendedores de Cigarros da Praça Três Cruzes”, um relato sobre a sobrevivência de um grupo de cerca de 20 crianças judias, entre sete e 17 anos, durante a ocupação nazista na Polônia.

O autor, Joseph Ziemian (1922-1971), foi combatente da Resistência Judaica, conheceu e ajudou os garotos na sua lida diária de vida ou morte. Contudo, só foi assumir a função de cronista deles após a guerra, quando recuperou uma série de documentos que escondera durante o célebre Levante do Gueto de Varsóvia, ocorrido entre agosto e outubro de 1944. Eram documentos variados, como notícias de jornais, fragmentos historiográficos, detalhes biográficos, diários dos garotos, transcrições de conversas, observações esparsas, fotos etc., a que deu a forma final que se lê no livro.

Quanto às razões da sobrevivência, Ziemian considera vários fatores, entre eles a solidariedade de alguns populares que, recebendo as crianças, arriscaram-se à pena de morte imposta pelos nazistas a quem abrigasse judeus; a esperteza e habilidade das crianças, assim como a coragem de seu líder; a ação organizada dos grupos que atuavam na resistência clandestina judaica e polonesa; e, enfim, a própria contingência da história que, em segundos, desmancha o certo e o improvável.

Acima de tudo, porém, acentua o fato de que a superação do desespero só ocorre quando há uma decisão de “lutar para viver”. Sem esse marco voluntário e voluntarista, que implica no abandono de quaisquer normas, mesmo morais ou religiosas, que se pusessem acima do valor da própria vida, Ziemian não crê que o caso tivesse o mesmo final.