Série da Netflix relembra o “Caso Nisman”

Em julho de 1994, um atentado a bomba ao prédio da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, matou 85 pessoas e feriu 300. Nenhum grupo terrorista reivindicou a autoria do ato. Mas havia indícios de envolvimento do Hezbollah. O episódio nunca foi totalmente esclarecido, apesar de extensas investigações. O promotor Alberto Nisman se debruçou por uma década sobre o caso. Mas, em 2015, apareceu morto. A tragédia ocorreu às vésperas de ele apresentar uma denúncia contra a então presidente Cristina Kirchner de encobrir as investigações num acordo com o Irã. Havia uma arma ao lado do corpo e a cena, à primeira vista, apontava para a hipótese de suicídio. Porém, não foram encontrados indícios de pólvora na mão do morto. É esse o tema da série documental “Nisman: O promotor, a presidente e o espião”, que chegou à Netflix.

A produção tem seis episódios e não precisaria de tanto. Ela se arrasta nas repetições e no abuso do recurso da câmera lenta. Por outro lado, é composta de um farto material de arquivo e riqueza de entrevistas. Conta com imagens do atentado e depoimentos de vítimas que estavam lá na hora. A mãe de Nisman, a ex-mulher e amigos dele dão seus testemunhos. Cristina Kirchner e figuras ligadas ao governo dela também fornecem as suas versões dos fatos. Imagens de manifestações políticas em Buenos Aires — de adoradores dos Kirchner e de seus opositores — completam esse painel amplo. A série levanta mais interrogações do que apresenta respostas, mas é inevitável: ela retrata a falta de solução do caso até hoje. Vale conferir.

Texto: Patrícia Kogut/O Globo