Artigo “Justiça e Judaísmo”, por Arnon Velmovitsky, presidente da FIERJ

“Tzedek, tzedek tirdof” (A justiça, somente a justiça seguirás) diz a Torá em Deuteronômio 16:20. Lembrei-me desta passagem recentemente ao assistir à posse do ministro Luiz Fux como o primeiro judeu a assumir a presidência do STF. E novamente, poucos dias depois, ao saber do falecimento da juíza Ruth Bader Ginsburg, a primeira judia a ocupar uma cadeira na Suprema Corte dos EUA.

Fux e Ginsburg estão unidos não apenas por serem juristas de grande prestígio em seus países, nem somente por serem judeus, mas por serem juristas que, ao longo de toda a carreira, inspiraram-se nas escrituras e nas tradições judaicas para buscar incansavelmente a justiça.

“Tenho uma fé muito grande nos valores da nossa religião”, explicou o brasileiro Fux em uma entrevista ao programa de TV da FIERJ. “Em hebraico, a mesma palavra significa justiça e caridade. Estes dois valores são introjetados em nós desde a primeira infância. Fui buscar no judaísmo esta humanização que é tão importante para a magistratura. A justiça é a última porta que o aflito tem para bater”.

A americana Ruth Bader Ginsburg tinha opinião semelhante. “Sou uma juíza nascida, criada e orgulhosa de ser judia”, declarou pouco após tomar posse. “A demanda por justiça permeia toda a tradição judaica. Espero que em meus anos na Suprema Corte eu tenha a força e a coragem de estar permanentemente a serviço desta tradição”.
O judaísmo dedica-se apaixonadamente ao ideal de justiça. Os imperativos morais de justiça, ética e moralidade são para nós obrigações religiosas, e não apenas ideais de bom comportamento.

Não é coincidência a histórica presença de tantos judeus no meio jurídico. Todo aquele educado dentro da cultura judaica percebe a recorrência com que o tema da justiça aparece no Pentateuco, nos Profetas, nos Salmos e nos inúmeros tratados dos grandes sábios de nossa religião.

“Quando se faz justiça, o justo se alegra e os malfeitores se apavoram”, diz o Livro dos Provérbios. Este é o nosso compromisso, como judeus e como comunidade, com nossa fé e com os países em que vivemos.

Publicado em O Globo