Em livro, Nora Rónai relata a reconstrução da vida depois de ter fugido do nazismo

Do alto de seus 96 anos, Nora Rónai acaba de lançar seu terceiro livro, “O desenho do tempo” (Bazar do Tempo), em que relata como reconstruiu a vida no Brasil.

Ela nasceu no norte da Itália, na cidade de Fiume (hoje pertencente à Croácia). A família judia conseguiu se salvar dos horrores do nazismo fugindo, na terceira classe de um navio, para o Brasil. Em 1941, ela, o pai, a mãe e o irmão aportaram no Rio. Aqui, chegou apátrida. “O país me recebeu de braços abertos. Eu estava superfeliz, havia escapado”.

A família, depois de ser despejada de um apartamento em Laranjeiras, pelo fato de não ser permitido a cidadãos oriundos do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) morarem nas imediações do Palácio da Guanabara, instalou-se no Rio Comprido. Aos 20 anos, ela se tornou atleta de saltos ornamentais. Foi nove anos seguidos campeã carioca de trampolim e de plataforma, uma vez campeã brasileira de plataforma e uma vez vice-campeã sul-americana. Depois dos 60 anos, passou a praticar natação, colecionando recordes na sua categoria. “Faz bem para o corpo e para a mente. Está triste? Caia na piscina e nade. Depois dos 400 metros, não existe mais problema”.

Vanguardista graças ao pai — “que tinha uma visão ampla do mundo” — , formou-se em Arquitetura em 1950, mesmo ano em que perdeu a mãe para a leucemia. Antes disso, teve que enfrentar a morte do único irmão, vítima de um acidente de carro. “É da vida, a não ser que se morra criança. Do resto, eu me considero uma pessoa de sorte”, avalia, citando, em seguida, o marido, o filólogo húngaro, também refugiado, Paulo Rónai (1907-1992), com quem se casou e teve duas filhas: Cora e Laura.