“Escape the room” inspirado no Holocausto choca judeus na Grécia


Na Grécia, o game “A lista de Schindler”, um jogo de estilo “escape the room”, está causando indignação na comunidade judaica. O clamor levou a empresa responsável pela sala, a Great Escape, a mudar o nome para “Agente secreto”. Porém, o objetivo continua o mesmo: elaborar uma lista de pessoas que serão poupados de uma morte terrível por forças inimigas.

Embora o jogo não faça referência explícita aos judeus ou ao Holocausto, as descrições em sites gregos atraíram jogadores ao desafiá-los a ajudar o alemão Oskar Schindler a “salvar o máximo possível de pessoas inocentes da perseguição das forças da SS em Cracóvia, na Polônia. A Grécia é a sede de um dos grupos neonazistas mais violentos da Europa, o Golden Dawn, que recebe regularmente cerca de 8% dos votos do país e é considerado o terceiro maior partido político.

As autoridades do Conselho Central de Comunidades Judaicas da Grécia foram enfáticas ao condenarem o game. “Não se trata só de antissemitismo. O sucesso desse jogo depende da ignorância que varre a sociedade grega. Pergunte e a maioria dos gregos vai dizer que Schindler foi uma espécie de estrela do rock ou jogador de futebol”, afirma o diretor Victor Eliezer. “Tudo que eu desejo é que eles façam uma viagem a Auschwitz para sentir, mesmo por uma fração de segundo, o terror da morte em um campo de concentração alemão. Só então pode haver esperança de que eles não mais degradarão o sofrimento humano”.

Ativistas nos Estados Unidos também compraram a briga. “Pegar uma experiência como o Holocausto, que foi desumanizante para as vítimas, e torná-la um jogo banaliza não apenas o episódio, mas também o sofrimento que ele causou”, afirma Victoria Barnett, diretora do Museu Memorial do Holocausto.

O controverso jogo sobre o Holocausto foi lançado primeiro em Salonica, a segunda maior cidade da Grécia. Antes da Segunda Guerra Mundial, o local abrigava uma das maiores comunidades de judeus do mundo, o que lhe rendeu os apelidos de “Mãe de Israel” e “Jerusalém dos Bálcãs”. No auge do conflito, mais de 44 mil judeus foram deportados para campos de concentração na Europa central. Apenas poucos sobreviventes retornaram à cidade, que perdeu 96% de sua comunidade judaica. “Não podemos esquecer. Não devemos esquecer. Não deveríamos esquecer”, diz David Saltiel, presidente do Conselho Central de Comunidades Judaicas da Grécia.

Não é a primeira vez que um “escape game” evoca o Holocausto. Em 2016, uma empresa holandesa se baseou num dos episódios mais sombrios da história do mundo para criar uma sala inspirada no bunker da Anne Frank, local onde a adolescente judia ficou escondida com sua família em Amsterdã antes de ser pega pelas forças nazistas e levada a um campo de extermínio.

Em 2017, o conselho judaico grego protestou contra “Auschwitz”, outro “escape game” que, dessa vez, levou jogadores a um campo de concentração em Galatsi, nos arredores de Atenas.