Modelo de inovação de Israel: lições e oportunidades para o Brasil

Israel é um país novo, com extensão territorial bastante limitada, mercado interno reduzido, altíssima escassez de recursos naturais, inserido em conflitos históricos, sem parceiros comerciais no seu entorno. Mesmo diante de tudo isso, o país considerado a grande “nação das startups”.

Com um ecossistema mundialmente reconhecido, Israel enxergou na inovação uma forma de vencer no jogo, superar barreiras e provar que é possível triunfar apesar de cenários adversos. Alguns ingredientes da receita para seu sucesso pude conferir de perto recentemente, quando tive a oportunidade de realizar uma formação executiva voltada para a estratégia de inovação na Universidade de Tel Aviv.

Um desses ingredientes é a força existente na diversidade. Sua população de 8 milhões de habitantes é extremamente heterogênea, uma vez que é composta por pessoas originárias das mais diferentes nacionalidades que se juntaram pela religião. Apesar de terem o judaísmo em comum, vejo que suas múltiplas culturas e histórias, vindas de todas as partes do globo, contribuem e muito para dar a Israel uma riqueza: distintas visões e formas de pensamento, tão importantes para estimular o olhar “fora da caixa” que buscamos para conseguir inovar.

Outro ponto importante que contribuiu para que Israel conquistasse essa posição de liderança em inovação é a maturidade dos seus profissionais. Uma vez que servir ao exército é uma obrigatoriedade, as pessoas ingressam na universidade mais tardiamente. Além disso, eles têm como costume viajar pelo mundo enquanto ainda são jovens. Assim, quando finalizam suas formações e entram no mercado de trabalho, já têm uma bagagem de vida considerável e maior maturidade, o que ajuda na questão do empreendedorismo. Afinal, quanto mais maduro um empreendedor, melhores as chances de sua startup dar resultados.

Agregada a isso, entra a educação como a base da cultura judaica. Desde cedo, as crianças são a todo momento estimuladas a questionar e não aceitar respostas prontas dos professores. No estudo religioso, por exemplo, o método de ensino envolve pegar cada princípio e debatê-lo a exaustão, sem medo de desrespeitar hierarquias. Essa cultura livre e questionadora é justamente a semente da inovação, pois envolve não aceitar regras, buscar caminhos não óbvios e formas diferentes de enxergar o mundo e aquilo que já nos é dado como pronto e certo.

É fato que a diversidade, a maturidade e o perfil questionador dos israelenses são fatores que contribuíram significativamente para que eles chegassem onde estão. Porém, acredito que a alavanca essencial para que a inovação decolasse tenha sido a tríplice formada por universidades, poder privado e poder público. Lá o governo investe nas startups e tem, inclusive, um órgão responsável por fazer a análise de oportunidades mesmo que elas estejam ainda em estágio embrionário. Aportando o investimento que o empresário tanto precisa nessa fase inicial, ele realmente consegue tirar a ideia do papel.

Agindo de maneira integrada por interesses comuns, essa tríplice têm feito apostas mesmo sabendo que, em média, só 5% das startups conseguem entrar em outros estágios de investimento. Eles investem independentemente da taxa de insucesso, pois sabem que cada 1 dólar que colocam nesse mercado se transforma em nada menos do que 8 dólares em geração de empregos e novos negócios, uma conta que vale muito a pena. Essa estratégia se mostrou tão eficiente que hoje têm 200 ventures para uma população de 8 milhões de habitantes, com cases de sucesso como a compra, por US$ 15,3 bilhões, da israelense Mobileye pela fabricante norte-americana de chips Intel.

No Brasil, infelizmente ainda estamos longe dessa conexão tão bem estabelecida entre as três frentes, mas o Porto Digital de Recife é um bom exemplo dos frutos conquistados quando universidade, iniciativa privada e governo trabalham em conjunto. Israel tem muito a nos ensinar com seu modelo de inovação, mas também temos algo a oferecer. Sendo um país com dimensões continentais, nosso mercado interno é um terreno fértil para escalar suas startups.

Os israelenses estão realmente criando soluções disruptivas que podem mudar o mundo de várias maneiras. E nós temos potencial não só de aprender como também de criar parcerias para embarcar nessa transformação junto com eles.

Fonte: Startse
Autor: Zaima Milazzo, presidente do Brain, centro de inovação fundado pela Algar Telecom